A T R E V E S - T E A E S C R E V E R ? #4 ( um conto )
( gatilhos: menções de morte. )
"Deu-me
uma bússola e um mapa. E agora, o que é que eu faço com isto?"
Enquanto eu caminhava na floresta que ameaçava consumir-me por completo, as folhas castanhas que haviam caído das árvores estalavam gentilmente debaixo das minhas botas. A confusão ainda me assombrava, o medo de ter sido deixada sozinha no meio do nada. Existiam rumores de ursos a andarem pela floresta, mas não era por esse motivo que a minha pele se encontrava arrepiada ou porque eu depositava tanta atenção ao meu redor.
A lenda que muitas raparigas haviam perdido as suas vidas aqui era bastante popular. Existiam todo o tipo de histórias, mas os aldeões apenas se focavam nas mais macabras. Jovens que vinham para aqui com os seus amores jovens, desapareciam, para nunca serem vistas de novo. O meu coração estremia de todas as vezes que pensava nisso e agora ponderava para mim própria se eu seria uma dessas raparigas.
Perdida. Consumida pela floresta. Desaparecida.
Engoli em seco, o aperto no meu peito apenas piorando de todas as vezes que olhava para o mapa e para a bússola. Eu estava perdida e não sabia como utilizar nenhum destes instrumentos, no entanto, aqui estava eu. O luz do sol ameaçava abandonar-me, levando consigo a minha esperança de conseguir sair daqui sã e salva.
No mapa encontrava-se apenas um círculo em vemelho, o local onde eu me encontrava e o nome da vila. Devia ficar a quilómetros de distância! Sem a luz do dia eu não ia conseguir ver outro nascer do sol, a minha mãe, os meus amigos.
Ele disse que isto era um teste e eu claramente já havia falhado.
Respirando fundo para tentar e manter o pânico
enterrado no meu peito, segurei a bússola na minha mão trémula enquanto olhava
em redor. O silêncio era sufocante, quase como se de todas as vezes que eu
desviava a minha atenção, um par de olhos me observava com atenção.
Assim que virei as costas para o caminho de terra, mal conseguia acredotar no
que se encontrava no meu campo de visão.
Na distância, uma pequena raposa branca como a neve,
analizava-me com curiosidade. Mantendo-se afastada de mim, ela receava-me com
certeza, mas ainda assim eu agachei-me gentil e lentamente para que ela não
fugisse. Permaneci quieta, apenas estendendo a minha mão com a esperança que
ela se aproximasse de mim. Poucos segundos depois, uns sapatos que pertenciam a
uma criança surgiram ao pé da raposa e quando elevei o meu olhar, uma menina
que aparentava ter dez anos, sorriu na minha direção.
Os seus cabelos castanhos eram longos, atingindo a sua cintura, os seus olhos
revestidos po um azul mais bonito que os tons que cobriam o céu e ela envergava
um vestido branco sem mangas. Apesar de ela estar a sorrir, eu senti um arrepio
a percorrer a minha espinha.
A menina aproximou-se e reparei o quão pálida ela era, a cor dos seus cabelos adornando a sua tez. Quando chegou ao meu lado, reparei que a raposa a seguia, e ambas se colocaram ao meu lado. A menina estendeu o seu braço, segurando a minha mão na sua, e puxando-me gentilmente.
A minha mente acelerou com todos os pensamentos –
seria o fantasma de uma menina que havia falecido aqui? Para onde é que ela me
estava a levar?
Apesar de sentir receio, sempre que a olhava ela aparentava sempre ter um sorriso
nos seus lábios. A raposa caminhava ao seu lado, acompanhando o passo da menina
desconhecida, mas não me olhava agora.
- Temos que andar mais rápido. – Ela falou pela primeira vez. – Se queres volta para a vila.
- Quem és tu? – Quando a questionei, ela desviou o seu olhar do caminho em diante de nós e inclinou a cabeça para o lado como se eu tivesse feito uma pergunta boa.
- O meu nome é Mara. E ela é a Silver. – Apontou para a raposa.
- Estás perdida, Mara? – Ela olhou-me de novo, desta vez com as sobrancelhas unidas.
- Não, mas tu estás. – O seus passos continuaram no mesmo ritmo e a minha mão agarrou a sua gentilmente. – Se queres ajuda a sair da floresta, vais precisar de andar mais rápido. Elas estão a chegar.
- Quem são elas?
Mara não respondeu à minha pergunta. Ela puxou-me com
a intenção de bandonar este lugar o mais rápido possível e assim o fiz.
A certo ponto quase que corremos para fora da floresta e assim que avistei a
vila à distância, quase que senti o meu coração a palpitar com felicidade.
A velocidade cresceu e quando me encontrei à entrada
da floresta, senti um peso a abandonar o meu peito. O mapa e a bússola na mão
que nem há segundos atrás, segurava a de Mara, a menina misteriosa.
Olhei para trás e a floresta tornara-se tão assustadora com as vozes que
provinham da mesma.
Mara sorriu de novoe apontou em direção à vila. O sol foi substítuido pela lua, o azul da noite e as estrelas. Quando retornamos, o meu irmão encontrava-se lá juntamente com os aldeões e ele sorriu na minha direção, com o alívio a preencher o seu rosto.
- Jen! – Os seus braços puxaram-me contra si com força e sorri, fechando os olhos por breves momentos. – Não acredito que conseguiste retornar. Eles estavam a dizer que ias ficar perdida para a floresta...
Os aldeões murmuraram cabisbaixos, questionando-se como é que eu havia escapado.
- A Mara lidou o caminho.
Todos me olharam com sobrolhos unidos, rostos com confusão espelhada nas suas expressões.
- Quem é a Mara? – O meu irmão questionou e quando eu ia abrir os lábios para falar, reparei que ela já não se encontrava ao meu lado. Ou a Silver. – Jen?
Olhei para trás, para a entrada da floresta e percebi então.
A oportunidade de Mara havia sido roubada, mas ela salvara a minha vida.
N/A:
Decidi participar também neste último objetivo criativo da Elisabete Moreira & da Vera Barbosa "Atreves-te a escrever?"
O objetivo consta em escrever um conto entre 500 e 1000 palavras com um tema de suspense!
Fico muito feliz por ter encontrado estas duas meninas talentosas aqui e fico tão honrada por elas me convidarem de braços abertos para escrever! Por serem tão amorosas como são talentosas!!!
Adorei que a minha criatividade simplesmente fluísse com cada tema oferecido e adorei mesmo muito, participar nestes objetivos fantásticos.
Passem nos blogs destas lindas e deem-lhes muito amor!
Olá, Ruth,
ResponderEliminarEste conto é tão bonito! Sinto que há toda uma história por detrás da que contaste - o que aconteceu às outras raparigas? Quem era a Mara? Fiquei muito curiosa, espero que, um dia, desenvolvas este conto, porque eu quero ler mais!
Obrigada por teres participado. Esperamos ver-te na Gala Mais Assustadora no sábado, dia 31, às 16h. :)
Um beijinho,
Elisabete.
Primeiro: parabéns pelo teu conto. Queria ler mais. Saber o que acontece na floresta.
ResponderEliminarNota-se o teu carinho pelo que escreves e que estás a ver ao mesmo tempo que as tuas personagens. Estás a viver a tua história 💛 não há nada tão gratificante como passarmos para as palavras o que nos vai na mente, não achas?
Ruth, obrigada pela participação e dedicação. Nós carregamos no botão start, mas foste tu a responsável por alcançar os objetivos. Estás de parabéns e espero que te tenhas divertido imenso.
Um enorme beijinho 😘